A Conferência das Partes no Egito poderia ser simplesmente um encontro de tomadores de decisão. A responsabilidade de revisar uma política internacional, apontar melhorias e fechar acordos multilaterais já cria um volume suficiente de pautas para os 15 dias de encontro. Contudo, ao logo dos últimos 27 anos, diversos eventos e encontros foram sendo agregados criando uma atmosfera que une política internacional, inovação tecnológica, tendências de mercado, projetos e movimentos socioambientais.
Durante esta última semana pude vivenciar um pouco desta COP-27, em missão internacional como Senador da República representando Sergipe. Em 2019, por conta da realidade sergipana, decidi integrar a Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas. Infelizmente o negacionismo impediu a continuidade dos trabalhos desta Comissão mas segui propondo melhorias legislativas e realizando fiscalizações através do Gabinete Compartilhado.
Muitas pessoas não entendem o que são as mudanças climáticas ou como afetam nossas vidas, contudo, aqui em Sergipe somos anualmente impactados com enchentes e com secas extremas. Dezenas de municípios, periodicamente decretam estado de calamidade por falta de água e são milhares os agricultores que já não conseguem mais viver do cultivo ou da pecuária por conta da escassez de água e da seca. O clima está mudando. Nesta COP os pesquisadores apontam a dificuldade real de conter o aumento da temperatura para níveis perigosos para a humanidade. Para tanto é preciso agir, e rápido.
Esta urgência pode significar, para Sergipe, uma série de oportunidades. Sim. Com as mudanças climáticas e a necessidade de fazermos uma transição para uma economia de baixa emissão de carbono não existem apenas más notícias. Sergipe tem um alto potencial de geração de energia eólica e solar, podendo ter plantas relevantes para todo o Nordeste. Por ser um estado com uma pequena dimensão territorial, pode abrigar startups e empresas que precisam de um local com nossas características ambientais e geográficas para testar inovações tecnológicas principalmente de acesso à água. Abrir as portas para estes empreendimentos, além de apoiar o desenvolvimento de novos negócios poderá gerar emprego e renda para o nosso Estado e ampliar a produtividade agrícola que está impactada pela falta de água.
Temos ainda um alto potencial de recaatingamento e com ele gerar crédito de carbono, um mercado que só tende a crescer com a regulamentação que irá ocorrer em breve no Congresso Nacional. Ressalto que o mercado voluntário de carbono já existe, está em franco crescimento e nesta COP as entidades financeiras se comprometeram não apenas com a sua expansão mas também com critérios de redução de emissões para a concessão de novos recursos nas suas carteiras tradicionais de empréstimos.
As mudanças no clima são resultado da forma como vivemos e produzimos. Para bloquear o aumento da temperatura global só existe uma alternativa: fazer a transição para uma economia de baixo carbono. Sergipe tem uma escolha a fazer: esperar o mundo inteiro fazer a transição ou sair na frente, ser inovador e referência. Temos as características ideais e o diferencial de poder inovar ao fazer a transição ainda com alto potencial produtivo no setor de petróleo e gás. Estarei, no Senado, apontando caminhos e, sempre que possível, criando pontes e atraindo atores para que invistam no nosso Estado.
Retorno ao Brasil e à Sergipe animado com a profusão de criatividade, ideias e inovações que conheci nestes últimos dias, mas também com a responsabilidade de lutar pela melhoria legislativa necessária para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono no nosso país. Quanto à Sergipe, seguirei dialogando com organismos de cooperação internacional e organizações interessadas em apoiar projetos e investir no nosso Estado.
Alessandro Vieira
Senador da República por Sergipe