Não faça o que ele faz

Foto: Roque de Sá/Agência Senado

No mesmo dia em que o Distrito Federal confirma a primeira morte por infecção do novo coronavírus – a servidora Viviane Rocha de Luiz, de 61 anos -, o Presidente da República foi às ruas estimular o descumprimento das orientações mais elementares dos técnicos da saúde de todo o mundo – inclusive do seu Ministério da Saúde. Na manhã deste domingo, 29, Jair Bolsonaro visitou um churrasquinho em uma praça de Taguatinga, aglomerando pessoas. Mais tarde, estava no Sudoeste, primeiro em uma farmácia, depois numa padaria. Mais gente se espremendo. O passeio seguiu para no Hospital das Forças Armadas (HFA), onde o presidente cumprimentou populares. Depois, Bolsonaro seguiu para um estabelecimento comercial em Sobradinho. Todos os eventos de transgressão às medidas de isolamento para conter o avanço do novo coronavírus foram filmados. E mostraram um Bolsonaro que parece não ter entendido onde se meteu. “Esse isolamento horizontal se continuar assim, com a brutal quantidade de desemprego que vem pela frente, teremos um problema seríssimo, que vai levar anos para resolver”, afirmou. “A luta toda não é para evitar o contágio, mas para diminuir a onda”, completou o presidente.

Essa mistura de irresponsabilidade e ignorância não deve ser lida como uma simples demonstração de despreparo intelectual e emocional. Até as referências políticas internacionais de Bolsonaro, com destaque para Trump, depois de alguma demora, entenderam a gravidade da situação e estão anunciando sucessivas medidas de desestímulo à circulação de pessoas e de quarentena. Estão mobilizando seus países para um sentimento de união no enfrentamento da maior crise sanitária e econômica dos últimos 100 anos. O que Bolsonaro está buscando é uma ruptura política que justifique uma eventual tentativa de auto-golpe. Aposta no agravamento da divisão política para justificar seu projeto de poder que não aceita os limites impostos pela democracia. Ironia do destino, foi justamente a democracia que permitiu sua legítima chegada ao poder. Os limites do que pode e do que não pode fazer um governante estão claros na nossa Constituição. Bolsonaro rompeu estes limites, justamente na hora em que a população mais precisa de uma liderança positiva. A solução deste impasse vai exigir equilíbrio e coragem para fazer o necessário neste momento tão grave da nossa história.

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