Precisamos de lideranças honestas e resilientes

O desejo de materializar em memórias o que tenho vivido em minha curta, mas vertiginosa, caminhada pela política acaba sendo postergado pela agenda sempre exaustiva. Mas alguns pontos podem, quem sabe, iluminar caminhos para aqueles que desejam, como eu, impactar positivamente a vida das pessoas em larga escala.

A premissa essencial é aceitar que o caminho a percorrer deve ser, sem concessões, democrático — eleições periódicas, respeito ao resultado das urnas e alternância de poder. É um caminho com avanços e retrocessos, mas a democracia não comporta atalhos.

A compreensão histórica aponta que a administração pública e o sistema político brasileiro são pesados e profundamente viciados em velhas práticas que turvam constantemente os limites entre os interesses público e privado. Terreno fértil para a corrupção arraigada e para a subversão de prioridades, que eternizam o país num abismo de fome, violência e precariedade na educação pública, num moto-contínuo de miséria e desalento.

Nenhum homem público decente tem dúvida quanto à necessidade de investimentos maciços em educação pública de qualidade, programas eficientes de transferência de renda, segurança pública e infraestrutura, com participação da sociedade civil e feitos com responsabilidade fiscal, transparência, metas e fiscalização.

Então, se problemas e soluções estão identificados, por que não avançamos?

Minha experiência aponta como causa a perenidade de incentivos perversos na sociedade brasileira, em particular a impunidade no andar de cima. Vencedores numa sociedade falida, cercados por privilégios que lutam para ampliar a cada geração.

Romper com antigas práticas coloca em risco as múltiplas vantagens concedidas a essas castas, que preferem manter o perverso equilíbrio de forças eternizador da desigualdade social. O sistema que gera essa total desordem, com vítimas que se multiplicam, é ignorado ou mesmo tolerado no emaranhado político-jurídico que impera no Brasil.

É nesse ponto da caminhada que a resiliência se torna fundamental. A capacidade de resistir à pressão brutal do velho sistema. Não pela mera crítica estéril, mas sim pela adaptação às circunstâncias sem abrir mão dos princípios, mantendo foco no principal, que sempre será impactar positivamente a vida das pessoas por meio de boas e eficientes políticas públicas.

Mesmo nos momentos mais difíceis é possível avançar ou, na pior das hipóteses, reduzir danos.

A prova está nos vários avanços obtidos nos últimos quatro anos, apesar do negacionismo e do peso da nova ferramenta de cooptação parlamentar, o orçamento secreto. Durante a pandemia, construímos um auxílio emergencial suficientemente amplo e abrimos caminho para a compra de vacinas, que só foi impulsionada por uma CPI no Senado, para a qual prestei significativa contribuição. A inclusão do direito à renda básica familiar no texto constitucional e a criação do benefício da primeira infância, garantindo seu espaço orçamentário, também são bons exemplos, como a aprovação do novo Fundeb.

Com a alternância de poder proporcionada pelas eleições gerais de 2022, novamente a resiliência de quem deseja um Brasil mais justo será colocada à prova. Parece evidente que setores como Cultura, Educação e Meio Ambiente serão distensionados, o que permitirá uma reconstrução e avanço mais seguros. Em áreas como Segurança Pública, Economia e Integridade, ainda não é possível distinguir com clareza os rumos — como demonstra a atabalhoada negociação para aprovação da chamada PEC da Transição, com aparente manutenção das piores práticas.

A democracia brasileira sobreviveu a seu mais duro teste em muitas décadas, e será com as ferramentas que ela oferece que vamos avançar. A velocidade e a qualidade do avanço será maior na mesma medida em que se consiga inspirar e trazer para a luta política cada vez mais gente honesta e independente, capaz de superar o populismo e as idolatrias. Essa será provavelmente nossa principal missão para os próximos anos.

Alessandro Vieira, Senador da República (PSDB/SE)

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